segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Arte de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na corte imperial


GONDRA, José G. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na Corte Imperial. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004, 562p.


A interrogação sobre a produção social da escola e o lugar a ela conferido na construção de uma ordem civilizada constitui-se no tema central deste livro, que representa contribuição significativa no conjunto dos esforços de reconfiguração da historiografia educacional brasileira, empreendidos nos últimos anos. Ancorada em ampla pesquisa documental e fecundo diálogo com a produção historiográfica, o autor indaga sobre o papel da ordem médica na "invenção da escola", investigando sistematicamente a presença dos preceitos médico-higienistas na configuração do padrão moderno de escola. Examinando o projeto de constituição da escola como lugar de cura para os males de uma sociedade representada sob os signos da incivilidade, desordem, curandeirismo e desrazão, Gondra intenta "debater a tese de que a própria invenção da educação escolar no Brasil se deu a partir de uma matriz médica" (p. 83).Elegendo como fontes teses defendidas por médicos formados pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, entre 1850 e 1890, o autor indaga sobre o processo de institucionalização da medicina no Brasil oitocentista, bem como sobre as medidas políticas defendidas pelos médicos com vista a combater as práticas da população. Percorrendo essa dupla interrogação, examina as representações em relação aos projetos de formação dos médicos e à população em geral, produzidas em nome da racionalidade médica, procurando compreendê-las como práticas, que expressam concepções de educação e propostas de intervenção social. As representações que os médicos produzem de si mesmos, dos assuntos abordados, dos procedimentos de escrita da tese e, além disso, as representações sobre a cidade, o povo e a educação escolar constituem-se, nesse sentido, os aspectos sobre os quais incide o acurado exame empreendido por Gondra.O processo de construção do campo médico, no Brasil do século XIX, e de constituição da sua autonomia, autoridade e legitimidade para dispor sobre a saúde, a doença, a morte, a vida individual e a organização das coletividades configura-se no mote do primeiro capítulo. Inventariando as diferentes orientações que regiam os cuidados com a saúde e as práticas de cura, no período que antecede a criação dos primeiros cursos de cirurgia e anatomia no Brasil, o autor oferece elementos para a compreensão das múltiplas estratégias acionadas pelos médicos no sentido de constituírem a sua legitimidade no tratamento das questões ligadas à preservação da saúde, as quais se configuravam, até então, em domínio de cirurgiões-barbeiros, barbeiros, sangradores, boticários, curandeiros, entre outros sujeitos. No conjunto dessas estratégias, ganham relevo a criação da instituição de formação (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), a organização da corporação (Academia Imperial de Medicina) e o periodismo médico, iniciativas investidas de dupla função, na medida em que respondiam tanto à necessidade de unificação e controle das regras internas do campo, quanto aos propósitos de legitimação da intervenção social preconizada.O minucioso exame das regras segundo as quais se procurou ordenar o funcionamento do locus de formação e da corporação médica, associado a uma leitura cuidadosa da atuação dessas instituições, põe em cena os meandros que marcaram a institucionalização da medicina como saber autorizado, em sua articulação com o Estado, demonstrando que a ciência médica não se impôs de modo uniforme, nem mesmo depois da criação dos cursos de formação. Tal situação encontra explicação tanto na legitimidade dos "profanos", como na insuficiente capacidade dos representantes oficiais da medicina de conter um quadro nosográfico agravado pela pobreza e pela emergência de epidemias. Em suas análises, o autor procura demonstrar que a afirmação da crença no poder sem fronteiras da razão e da ciência correspondeu a amplo investimento de desautorização e desqualificação de múltiplos discursos e práticas, externos ou internos à medicina, representados pela ordem médica como sinônimos de charlatanismo e ocultismo. Tensões, disputas, concorrências, competições, acordos, silenciamentos, seleções e expulsões compõem o cenário em que se procurou configurar o discurso médico como única voz autorizada a dizer sobre a melhor forma de conduzir a vida.O alargamento do horizonte de interesses e competências dos médicos, expresso na formulação de intervenções que extrapolam a esfera da vida individual, voltando-se para problemas sociais das mais diversas ordens, constitui-se no foco do segundo capítulo, que examina sistematicamente os sentidos de tal alargamento, bem como as condições que o tornaram possível, os dispositivos acionados para garantir o seu sucesso e os objetos que passaram a ser recobertos pela atuação dos médicos. Sem ignorar a existência e as dimensões dos graves problemas sociais e de saúde que assolavam o Rio de Janeiro, Gondra chama a atenção para os propósitos de popularização e legitimação do saber médico que presidiram esse movimento, por meio do qual se procurou inventar a dimensão médico-sanitária dos problemas sociais. Como assinala o autor, os problemas evidenciados e produzidos com base no exame sistemático da cidade articulam-se no sentido de justificar uma intervenção médica voltada para os objetivos de ordenamento, regulação e civilização da cidade e seus habitantes.Na análise do projeto de regeneração social engendrado pelos médicos, o autor procura detectar o papel conferido à educação escolar. Examinando as teses escritas ao final do curso de formação, assinala a dispersão dos temas sobre os quais incidiu a atenção dos médicos, conferindo especial relevo, no conjunto das preocupações enfeixadas sob o rótulo de "hygiene", às preocupações com a escola e os temas educacionais. O rigoroso tratamento conferido às teses, como fontes e objeto da investigação, leva-o a indagar sobre o pertencimento social dos sujeitos da escrita, os constrangimentos institucionais que presidiram a elaboração e sustentação das teses, assim como a concepção de autoria. Tais indagações se sustentam sobre o pressuposto de que a escrita dos médicos se configura em prática cultural controlada e controladora de outras práticas, o que se traduz em uma leitura das teses como uma escrita institucional, parte de um projeto de organização de um tipo de saber e das estratégias forjadas no sentido de garantir a sua legitimidade.Tomando como referência as categorias que compõem o modelo médico-higiênico francês, adotado nas teses para discorrer sobre os problemas educacionais, o terceiro capítulo examina as representações produzidas pelos médicos sobre a educação escolar. Na investigação sobre o projeto de conformação do discurso pedagógico e da organização escolar forjado pelos médicos oitocentistas, o autor discute o papel dessas categorias na modelação do discurso da ordem médica, assinalando os sentidos de pertencimento a um corpo doutrinário, que perpassam a adesão a tal modelo. Como assinala Gondra, esse modelo, balizado pelo imperativo da moderação e pautado na combinação binária de indicações e contra-indicações, configurava-se num extenso programa de regras para o funcionamento dos colégios. Regras que incidiam sobre cada detalhe e tinham como objetivo a constituição de sujeitos física, moral e intelectualmente sadios, por meio de uma intervenção que, assumindo como eixo a instituição escolar, tinha como alvo o reordenamento da sociedade.O projeto de educação física, intelectual e moral defendido pelos médicos formados na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, configurado como "utopia de uma educação integral", é o objeto sobre o qual se debruça o autor no quarto capítulo. Examinando a "trindade pedagógica" em que se pauta o projeto de educação escolar, analisa as representações acerca dos escolares fabricadas em nome da racionalidade médica, chamando a atenção para as dimensões preventiva, corretiva e curativa em que se assentam as intervenções propostas. A indagação sobre a utopia de constituição de um homem novo, por meio de uma educação renovada, constitui-se no eixo segundo o qual são examinados os dispositivos de disciplinarização do corpo, da inteligência e das vontades, formulados com vista à regeneração da sociedade. Nessa utopia de educação integral, as práticas corporais respondem, como destaca Gondra, aos imperativos de desenvolvimento simultâneo do corpo e do espírito, tendo como alvo a regulação física e moral. Nessa análise, as aproximações entre o projeto de educação moral e os princípios defendidos pelo catolicismo levantam instigantes indagações em relação aos vínculos entre ciência e religião que convivem no projeto urdido pelos médicos.Configurada como "ciência integral", "ciência da infância" e "ciência da escola", a higiene procurou submeter a educação escolar aos seus princípios, reclamando para si o poder de orientar as reformas educacionais julgadas urgentes e inadiáveis para assegurar o ingresso do país na ordem civilizada. Instituindo-se em autoridade da ciência e da moral, o médico torna-se artífice de uma cruzada em favor da moralização dos colégios e da regeneração da infância e juventude que os freqüentavam, cabendo enfatizar que esse projeto visava, no limite, à constituição de uma sociedade moralizada.Construída na interface entre a história da medicina e a história da educação, esta obra traz efetivas contribuições para compreender a participação dos intelectuais e, mais especificamente, dos médicos na construção de um projeto de modernidade para o Brasil e, ao mesmo tempo, para a análise do lugar que a educação escolar é chamada a assumir nesse projeto civilizatório. Ler Artes de civilizar é, nesse sentido, um desafio para pensar a "invenção da escola" brasileira, a partir de uma interrogação sobre os efeitos positivos do poder na produção do real e na instauração de domínios de objetos e rituais de verdade.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782006000300014


Palestra sobre higiene


domingo, 26 de agosto de 2012

CIDADANIA


Ouço falar de uma pessoa que nem bem creceu ja é famosa
È a tal da cidadania que anda na boca de toda essa gente...
Alguém a conhece?
Parece que é gente famosa, dificil de ter acesso
mas que todos gostam de lhe falar...

A cidadania vive em todo lugar,
mas não conseguimos ver
porque ela se esconde dentro de você...
ou será, dentro de mim?

Esses dias fui a padaria e lá perguntei:
você viu a cidadania?
o gerente muito irritado mandou que eu fosse
ver na esquina, talvez lá eu a encontraria...

Muito desanimada, pensei em entrar na farmácia
que dobrava a esquina e quem sabe lá perguntar,
mas, lá também ninguém não sabe onde anda a tal da cidadania...
Será?

Pensei que eu deveria estar procurando no lugar errado,
bati na casa da visinha que me disse com todas as letras
cidadania, quem é? nunca ouvir falar!
então, saí dalí e a ultima esperança já estava por um fim...

No meio do caminho, parei e pensei,
ouvi o presidente falar na cidadania,
quem sabe se o prefeito me ajuda falar com o presidente,
e em fim eu consiga encontrar dona cidadania?...

Falsa ilusão, o prefeito também não sabe quem raio é a cidadania,
e achou por bem não encomodar o presidente
que estava ocupado pensando nos projetos que teria de realizar...

Cheguei em casa, dando de cara com o desanimo,
me pus a pensar... se a cidadania é tão famosa, porque ninguem sabe onde encontra-la?
foi aí que caiu a ficha, ela deve encomodar
por isso, ninguém quer encontrar
e nem praticar.

                                         Laise Souza Almeida

quinta-feira, 23 de agosto de 2012






GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi o de discorrer acerca da gravidez das adolescentes nas escolas públicas. O problema desta pesquisa é: A educação sexual nas escolas é importante para evitar a gravidez precoce na adolescência? Dessa forma foi discorrido sobre a gravidez e os medos gerados por crenças aprendidas. Após foi abordado sobre a gravidez precoce e a escola, mostrando que é muito comum haver evasão escolar dessas adolescentes. Assim, conclui-se que a educação sexual na escola é muito importante, para que seja possível evitar a gravidez precoce, auxiliando também na inclusão social, já que adolescentes grávidas estão mais predispostas à evasão escolar, por se sentirem excluídas do grupo.
Palavras-chave: gravidez; escola; adolescência.
  
INTRODUÇÂO

A gravidez na adolescência tem várias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando, ou mesmo, adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade.
A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais precocemente, com conseqüências indesejáveis imediatas como o aumento da freqüência de doenças sexualmente transmissíveis (DST), e gravidez, muitas vezes indesejável, e que, por isso, pode terminar em aborto.
Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera conseqüências tardias e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto. Há, inclusive, quem considere a gravidez na adolescência como complicação da atividade.
No tocante à educação, a interrupção, temporária ou definitiva, no processo de educação formal, acarretara prejuízo na qualidade de vida e nas oportunidades futuras. E não raro com a conivência do grupamento familiar e social, a adolescente se afasta da escola, frente à gravidez indesejada, quer por vergonha dos amigos e professores, quer por medo da reação de seus pais.
Assim, o objetivo deste trabalho é discorrer acerca da gravidez das adolescentes nas escolas públicas.
O problema a ser solucionado com esta pesquisa é: A educação sexual nas escolas é importante para evitar a gravidez precoce na adolescência?
A hipótese para o problema encontrado é que as adolescentes engravidam por falta de orientação e educação sexual. Após a gravidez, há constrangimento das mesmas diante da comunidade escolar e problemas decorrentes de uma gravidez, devendo o professor interagir com apoio de orientação para a inclusão desta aluna.
A metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica, para o levantamento do material necessário. Será pesquisado em livros, artigos científicos, revistas e sites de Internet, para que seja possível chegar às conclusões correspondentes.

 1 GRAVIDEZ

Durante séculos e mesmo durante milênios, tudo o que era relativo à reprodução humana, incluindo a gravidez, permaneceu envolto em representações, crenças, mitos e tradições extremamente obscuros. Diante dos mistérios que circundavam a geração do ser humano, a sociedade criava mitos e crenças a fim de dar conta desses fatos que ocorriam na vida real, mas para os quais a ciência ainda não tinha avançado o suficiente para lhes fornecer uma explicação racional.
         Curiosamente, apesar dos esclarecimentos oferecidos pela medicina, pela biologia e pela psicologia, ainda hoje sobrevive uma série de mitos, crenças e superstições acerca da gravidez.
Canteiro & Martins (2006) empreenderam uma pesquisa a fim de descrever os principais mitos sobre a maternidade, apresentando também os medos deles decorrentes. Verificaram que, sobretudo em determinados núcleos sociais, as mulheres precisam respeitar determinadas interdições e prescrições sociais calcadas em uma série de crenças, mitos e tradições populares.
         Os autores consideram que tais mitos e representações não devem ser desconsiderados pelo profissional que lida com a assistência a gestantes, pois estas crenças incidem diretamente no modo com a mulher experimenta subjetivamente a gravidez e a maternidade em geral. Para esses pesquisadores, o profissional de saúde que trabalha com gestantes e com mulheres durante o pós-parto deve considerar estes aspectos a fim de compreender as expectativas, os medos, as angústias e mesmo a culpa que as mulheres sentem neste estágio de suas vidas, principalmente se estas têm algum tipo de comportamento ou doença que possa prejudicar seu bebê.
         A predominância desses mitos e crenças a despeito do manancial de informações fidedignas acerca da gravidez que a ciência disponibiliza para a sociedade persiste na cultura, porque a maternidade não se restringe a um fenômeno biológico, ela é também um fenômeno social, produzindo variadas influências sobre o comportamento e os sentimentos das parturientes.
         De acordo com Kitzinger:

A gravidez é apreciada na maior parte das sociedades como um estado ritual. Uma futura mãe tem uma relação ritual especial com a sociedade, incluindo com o pai da criança, com os clãs de ambos, com o passado na pessoa dos antepassados e com o cosmos representado por deuses (KITZINGER, 1996, p.75).
        
         É claro que autor está utilizando uma metáfora, pois na sociedade atual não existem mais clãs, não se cultuam antepassados, não se crê nem cosmogonias nem em deuses. Tais categorias do passado longínquo da civilização deixaram suas marcas. Os clãs foram substituídos pelos núcleos sociais formados pelas famílias, o culto aos antepassados pelo respeito às tradições, o cosmos por uma visão de mundo que integra também uma moral e os deuses pela religião.
         Deste modo, o discurso sobre a maternidade é permeado pelas narrativas transmitidas oralmente de geração a geração. Mesmo em meio ao universo contemporâneo, marcado pela profusão de informações científicas sobre a gravidez, as mulheres ainda apelam aos conselhos da tradição, pois elas ainda concedem consideração ao “como vovó dizia...”. São as gerações mais velhas que asseguram a transmissão dessas crenças:

Na verdade, as pessoas idosas portadoras de saberes experimentados e consolidados no tempo, asseguraram a sua transmissão até nós. Numa primeira fase, esta transmissão passa-se essencialmente no seio da família, mais tarde, esta transmissão alarga-se à comunidade (CANTEIRO & MARTINS, 2006, p.4).
        
Os autores advertem para o fato de que até pouco tempo atrás, o índice de mortalidade infantil e materna era muito elevado. Assim, as crendices e ritos referentes à gravidez desempenhavam também a função de proteger as mulheres e os bebês.
De acordo com Maldonado (1994), desde o início da gestação a mulher pode sentir diversos medos: medo da dor do parto, medo de não conseguir cuidar do bebê, medo de não ser uma boa mãe, medo de a criança vir a nascer com alguma anomalia, medo de não dar conta de suas obrigações maternas, medo de sofrer algum dano para sua saúde, dentre outros. Já durante o período pós-parto, a autora assinala a predominância do medo de saber se seu filho nasceu normal.
Segundo Marinho (2006), esse medo de que o bebê não seja perfeito já se apresenta mesmo durante a gravidez, pois algumas mulheres recusam receber diagnósticos durante o período pré-natal. Segundo a autora: “A própria idéia de antecipar um diagnóstico de doença no filho por si só promove este clima de insegurança e medo na gravidez (MARINHO, 2006, p.6).
Maldonado (1994) atribui o medo de ter um filho mal-formado a sentimentos de culpa, que podem ser inconscientes e que datam de muito tempo, sendo relacionados ao medo de punição por algum ato praticado e julgado como merecedor de castigo. Essa culpa, que pode ser consciente ou inconsciente, pode gerar o temor de ter um filho com anomalias e associar-se à fantasia de “não estar bem por dentro”.
A orientação pré-natal, que é feita a fim de manter a saúde da mulher e do bebê e zelar para que o parto ocorra da melhor forma possível, pode incutir medos nas mães. Segundo Marinho:

(...) no ritual médico imposto pela genética pré-natal, a experiência de gravidez é cercada de sinais e símbolos que podem produzir diferentes ameaças: o medo de perder o filho, de que o filho nasça com um defeito, de não conseguir ter um filho ou, ainda, de não conseguir ser mãe para este filho, caso ele em venha a nascer com defeito (MARINHO, 2006, p.6).
     
         Quando durante o período de pós-parto, a mãe tem confirmado o diagnóstico de alguma deficiência no filho, os medos que surgem são inúmeros e mais intensos. Resta notar que diante desta constelação de sentimentos de medo e insegurança que ocorrem na gravidez, pode-se imaginar como é difícil para a mulher ter confirmado o temor da malformação, principalmente se esta for causada por alguma doença adquirida antes da gravidez ou durante esta.
As modificações corporais na gestação são tão intensas que podem facilmente originar o sentimento de que há algo errado com seu corpo, como se a mulher sentisse que seu corpo não é mais a sua própria casa. Esse estranhamento com o corpo próprio propicia o aparecimento do medo da malformação, que, quando associado às culpas e temor de punição, favorece ainda mais o medo de que a criança nasça imperfeita.
Numa mulher jovem e inexperiente, os medos e inseguranças são ainda maiores, visto ser uma situação nova, que transformará totalmente sua vida.

 2 GRAVIDEZ PRECOCE


O impacto adverso da gravidez precoce emerge de forma mais clara quando se examina a relação entre educação, pobreza e maternidade precoce.
Henreques, Silva, Singh e Wulf (1989) apresentam alguns dados na direção do exame dessa relação. Adolescentes cuja renda familiar se classifica entre as mais pobres quase não tem nenhuma chance de completar o 2º grau após o nascimento de um filho.
Vinte e quatro por cento dessas adolescentes tiveram de cinco a oito anos de escolaridade, mas somente 2% prosseguiram sua educação após o nascimento do filho. Entre as que tiveram um filho antes dos 20 anos, apenas 23% haviam estudado alem da 8ª série, enquanto as que não deram a luz, 44% estudaram além da 8ª série.
Já durante a gravidez, as adolescentes abandonam escola e emprego. Quando muito estudam ou trabalham ate o sétimo mês de gravidez (SOF, 1997). Constrangimento e pressões de diretores, professores, colegas e pais de colegas estão entre os fatores que determinam a saída da escola antes do nascimento do filho. Alguns pais contribuem decisivamente para esse abandono ao preferirem esconder a situação "vexatória" da gravidez de sua filha.
Após o nascimento, o abandono da escola e a saída que se impõem as mães jovens, sejam as que necessitam pagar com o seu trabalho doméstico (a família que a abriga e ao seu filho, sejam as que necessitam ganhar o sustento para ambos). Neste último caso, diante das dificuldades em encontrar vaga em uma creche gratuita próxima ou sequer em qualquer creche gratuita, a adolescente busca o apoio da sua família durante sua jornada de trabalho, o que toma ainda mais frágil sua complicada relação com o filho. O apoio da família, em especial nos estratos de baixa renda, significa urna diluição, ou atenuação da legitimidade da autoridade da mãe adolescente sobre o filho/filha (na classe média, a interferência da família é vivida como crise e questionada pela adolescente) (DESSER, 1993).
Quando não conseguem esse apoio familiar, não raro destinam parte de seus parcos vencimentos à outra mulher que cuidará de seu filho durante essa jornada. No fim do dia, a escola, diante desse contexto, toma-se urna tarefa impossível de ser cumprida. Jovens oriundas de famílias com maior poder econômico e que aceitam a gravidez, podem vislumbrar a possibilidade de completar seus estudos e retomar seu projeto de vida.
 A não-continuidade dos estudos significa menor qualificação, portanto, menos chances de competir num mercado cada vez mais exigente e com menos ofertas, além da submissão ao trabalho informal e mal remunerado.
A situação toma-se ainda mais perversa ao examinarmos o padrão de fertilidade. Os dados apontam que é provável que ele seja estabelecido na adolescência, pois mulheres que começam a ter filhos mais cedo, geralmente, têm mais filhos.
Levantamento Mundial de fertilidade realizado no final da década de 1980 encontrou que, em 27 dos 29 países abrangidos, mulheres que se casavam com 22 anos ou mais, tinham em média 0,5 filho a menos do que mulheres que se casavam aos 18 ou 19 anos (OMS 1994). Para quatro entre dez mães adolescentes, o segundo filho virá antes de o primeiro fazer três anos (SOF 1997). Estabelece-se o moto-contínuo e as jovens, especialmente as pobres, não conseguem rompê-lo, acentuando sua condição de dependente e subordinada.
Uma outra faceta da relação entre escolaridade e gravidez na adolescência, aponta significativas influências do nível de escolaridade na ocorrência desse tipo de gravidez. Henriques e colaboradores (1989) apresentam evidências de que a menor escolaridade é uma característica geral das adolescentes que tiveram filho, independentemente de seu nível de renda ou sua residência (áreas urbanas ou rurais).
Fertilidade; em geral, apresenta uma relação inversa com nível educacional das mulheres: mulheres sem educação formal têm, em média, o dobro do número de filhos do que aquelas com sete ou mais anos de escolaridade (OMS 1994).
Boletim da SOF (1997) aponta que, entre as meninas que ficam mais de cinco anos na escola, 5 em cada 100 engravidam antes de fazer 19 anos. Entre as meninas sem instrução, a proporção sobe para 17 em cada 100. Para as autoras, esses dados podem significar que a escola está ensinando algo sobre corpo, sexualidade e relações afetivas. Uma outra hipótese é que o fato de continuar os estudos aumente a auto-estima e proporcione à adolescente projetos de vida profissional mais amplos que o de ser apenas esposa e mãe.
 CONCLUSÃO

Após a pesquisa, percebe-se que a ação docente vai, desde a construção adequada e responsável do conhecimento até a habilidade necessária para se adequar ao tempo e ao contexto em que ocorrem as relações.
Lidar com situações como a gravidez precoce na adolescência necessita de uma habilidade grande por parte do professor, pois este deve auxiliar com informações e orientações acerca da própria gravidez e das mudanças sociais que esta causará. Também deve fazer com que esta futura mãe não abandone os estudos. Nessa ação, é fundamental o diálogo, a aprendizagem em grupo e o desenvolvimento da auto-estima, fatores que caracterizam uma educação em valores éticos, uma prática cidadã.
A prática docente, nessa perspectiva, deve formar uma rede de aproximação entre a família, a escola e a comunidade, e desenvolver, também, uma das mais importantes competências que é a de aprender a viver coletivamente, o que se constitui no elemento integrador entre os pilares da educação. A escola como um dos espaços do trabalho docente, deve minimizar a exclusão social e preparar o cidadão para superá-la.
Assim, conclui-se que a educação sexual na escola é muito importante, para que seja possível evitar a gravidez precoce, auxiliando também na inclusão social, já que adolescentes grávidas estão mais predispostas à evasão escolar, por se sentirem excluídas do grupo.

 REFERÊNCIAS


CANTEIRO, E.E.L., MARTINS, M.F.S. A Maternidade: Crenças e tradições em territórios amostra do distrito de Braga. O passado, o presente. Que futuro?  Disponível em  http://www.ugr.es/~adeh/comunicaciones/Lopes_Canteiro_E_E.pdf> Acesso em 15 jan. 2008
DESSER, NA. Adolescênciasexualidade e culpa. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, Brasília, DF, Fundação Universidade de Brasília, 1993.
HENREQUES, M.H.; SILVA, N.; SINGH, S.; WULF, D. Adolescentes de hoje, pais do amanhã: Brasil. Nova York: Alan Gutmacher Institute, 1989.
KITZINGER, S.  Mães. Um estudo antropológico da maternidade, Lisboa: Editorial Presença, 1996.
MALDONADO, M. T. P. Psicologia da gravidez: parto e puerpério. Petrópolis: Vozes, 1994.
MARINHO, A.S.N. Um retrato da gravidez de risco genético a partir de Frida Kahlo. Disponível em http://www.ipas.org.br/arquivos/RetratosAlice.pdf> Acesso em 18 jan. 2008
OMS - Organização Mundial da Saúde. Saúde reprodutiva de adolescentes: Uma estratégia para ação. Uma declaração conjunta OMS/FNUAPIUNICEF. Brasília: Ministério da Saúde. 1994.
SOF - Sempreviva Organização Feminista. Boletim Mulher e Saúde. n° 15 e 16. Maio/agosto, 1997.



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Curso Mestrado em Argentina

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PLANEJAMENTO FAMILIAR



Seminário "Gravidez na Adolescência"



Sexualidade na Adolescência





Sexualidade na Adolescência
 GILVAN SALES DO NASCIMENTO
 Itaberaba-Bahia/ 2012

INTRODUÇÃO

O comportamento sexual é considerado fisiologicamente natural e adaptativo para o sucesso reprodutivo de qualquer animal, inclusive do homem. Entretanto, este tipo de comportamento não é somente fundamental para a manutenção da espécie, mas exerce papel essencial nas relações sociais.
A sexualidade está acima de definições físicas, sendo mais relacionada à emoção. Deste modo, é preciso realizar análise minuciosa para compreensão, visto a expressão da sexualidade do indivíduo adulto receber influências diretas e constantes de múltiplos fatores, durante toda formação individual, desde o momento da concepção.
Entretanto, a sexualidade, atualmente, está sendo muito estimulada, principalmente pela mídia, e faz com que os alunos, desde cedo, tenham comportamentos de adultos, e muitas adolescentes acabam engravidando por falta de informação adequada sobre o assunto.
Assim, se mostra necessário trabalhar a sexualidade nas escolas, principalmente nas escolas públicas. O problema proposto neste trabalho é: como trabalhar a sexualidade nas escolas públicas?
O objetivo será discorrer acerca da sexualidade e de formas de trabalhar o assunto nas escolas, para que sejam evitados problemas indesejáveis, como a gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis. Para isso, será feita uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto, para que seja possível levantar informações relevantes para a resolução do problema...


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